- Olha querido! Há já muito tempo que tenho muita dificuldade
em movimentar os braços... - respondeu ela, com o seu jeito
carinhoso e desinibido, próprio de uma vendedora de banca
de peixe.
- E para além desse mau estar tem mais algum problema de saúde?
-perguntei eu, para perceber o contexto e para poder diagnosticar através da Linguagem do Corpo.
- Sim, já tive vários tumores no braço e ombro direito, que foram, felizmente, removidos com êxito.
- E isso foi há quanto tempo? - perguntei eu.
- Ooh, já foi há muito... Vinte anos, pelo menos - respondeu ela, desvalorizando o sucedido.
Como aprendi com um dos meus mestres, em termos de terapia manual, a importância de trabalhar as cicatrizes para devolver ao corpo a sua capacidade natural de adaptação (podemos falar sobre este assunto noutra oportunidade), foi o que fiz e comecei a devolver àquele pedaço de tecido fascial a sua flexibilidade, há muito perdida!
E enquanto lhe massajava a cicatriz no braço direito, junto ao ombro, fruto da remoção de um dos tumores há duas décadas disse-lhe:
- Sabe o que o seu corpo me está a dizer, querida? Que na altura
em que esta cicatriz foi impressa no seu corpo, algo sucedeu na
sua vida que lhe provocou uma mágoa profunda associada a alguém
do sexo feminino, relacionado com a área profissional!
Ela fez uma pausa, por momentos, a olhar para mim, com um ar um tanto ou quanto perplexo, e exclamou:
- Tem razão Ricardo, e aconteceu mesmo! Nessa altura abri uma oportunidade a uma familiar muito chegada, na minha banca, para trabalharmos juntas, e foi a pior coisa que fiz na minha vida pois ela fez-me a vida negra. Roubou-me e complicou-me a vida de tal forma que ainda hoje não consigo olhar para ela sem raiva!
Imediatamente entrei em modo de reprogramação mental e, com E.F.T. (Emotional Freedom Techniques) desmontámos aquela impressão negativa que há tanto tempo roubava energia, qualidade de vida e alegria aquela mulher, de tal modo que em poucos minutos ela só conseguia lembrar do último beijo que essa pessoa lhe tinha dado, em tempos, numa determinada altura.
De súbito toda aquela raiva que ela guardara no seu coração, por tantos anos, desaparecera e agora ela só conseguia ver o que as unia ao invés do que as separava.
Após uma descarga emocional, que se seguiu a esta mudança de perspectiva, ela exclamou:
- Ricardo! As pessoas são tão invejosas que só vêem o que uma
pessoa ganha e não vêem o que temos de trabalhar e penar para lá
chegarmos. O que fazemos neste caso? Toda a minha vida senti
que isso me atrapalha a vida e os meus objectivos!
- Quando é assim - afirmei eu - não temos de fazer nada senão aceitar
que essa inveja é fruto do processo de evolução de quem a tece
e que essa inveja só nos pode afetar se nos deixarmos afetar por ela.
- O facto de alguém fazer um julgamento de juízo sobre nós, não significa
que tenhamos de reagir ao mesmo, pois esse julgamento faz parte
do processo de crescimento de quem o faz e não nos diz respeito.
- Agora, quando damos importância a esse processo estamos a misturar
o karma alheio com o nosso e nós já temos tanto karma a resolver
que, se vamos transformar o dos outros no nosso, entramos numa
montanha russa emocional da qual é difícil de sair!
- Aceitar as limitações e a ignorância do próximo é um belo exercício de empatia e compaixão, que nos facilita a vida e nos liberta de uma carga enorme que só nos atrasa a vida!
- Tem toda a razão! - disse ela - Não faz sentido, é mesmo isso que
vou fazer daqui para a frente.
E foi o que fez!
Passados quinze dias voltou para uma segunda sessão com os braços muito mais leves, e perguntei-lhe sobre a sua vida e as suas mágoas e então ela disse-me:
- Sabes, Ricardo! Abençoado sejas pois não tenho mais nenhum tipo de rancor para com aquela minha familiar e a inveja dos outros praticamente não não mais me atinge! Sinto-me em paz pela primeira vez em vinte anos!...
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