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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Feng Shui: Velhos Princípios, Novos Tempos


Velhos Princípios, Novos Tempos
por Luís Ortet – Revista Macau edição Julho de 2000
Antigamente, o feng shui era utilizado sobretudo para escolher a melhor localização para as sepulturas. Ainda hoje se dá muita importância a este aspecto, mas nos primórdios da geomancia chinesa a “habitação” dos já falecidos ocupava um lugar central, considerando-se que dela dependia a sorte das gerações seguintes.
Nesse tempo os geomantes tinham que lidar com as duas formas principais ligadas ao “dragão”: as montanhas e os rios (ou o mar). As cristas das montanhas e as saliências naturais das paisagens formam o corpo, as veias e a pulsação do dragão, enquanto os cursos de água, superficiais e subterrâneos, constituem o seu sangue.
Nos nossos dias, o “dragão” mudou-se para as cidades, onde as montanhas foram substituídas pelos grandes edifícios e os rios deram lugar às avenidas. Mas os princípios mantiveram-se.

Os dois caracteres que compõem a expressão feng shui querem dizer respectivamente vento e água. E é justamente a circulação do vento e da água que nos informa sobre o fluxo de qi (a energia universal) num dado lugar.
O que se pretende é acumular qi, sem no entanto deixar que a energia fique estagnada. Deve haver sempre movimento, já que a vida é isso mesmo, movimento, e a morte a ausência dele. Mas, para permitir a acumulação de qi, esse movimento deve ser lento e suave, seguindo de preferência trajectos curvilíneos e serpenteantes.
Do mesmo modo que a circulação suave dos rios favorece quer a agricultura quer o transporte fluvial – portanto, a economia e a felicidade das pessoas – assim também o fluxo não agressivo de qi é o que mais se privilegia no feng shui.
Em contrapartida, tudo o que implique linhas rectas conduz à dispersão da energia vital, pois ela circula de uma forma tão intensa que não pode ser acumulada e até pode agredir. Tsso acontece, por exemplo, nas auto-estradas e avenidas rectas, em que se circula a grande velocidade. Uma casa situada no extremo de uma rua longa e recta é agredida pela circulação demasiado precipitada de qi.
Os lugares desabrigados, como o cume de uma montanha ou colina, representam igualmente a dispersão deqi, neste caso representado pelo vento.
Mas a mais temida de todas as situações é quando uma forma pontiaguda ou cortante “aponta”, de forma “ameaçadora”, no sentido do lugar cujo feng shui está a ser estudado. As esquinas de outros edifícios viradas na direcção de um dado lugar são o exemplo mais corrente dessas “setas secretas”, que geram a chamada sha qi ou energia mortal. Uma das prioridades na prática da geomancia chinesa é a resolução deste tipo de situações, mediante artifícios arquitectónicos ou decorativos, como uma parede adicional ou a reconstrução de uma porta, fazendo-a ficar virada para outra direcção.