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quarta-feira, 17 de abril de 2019

EPOPEIA DO I'CHING

... O I' Ching é justamente importante porque tem a ver com toda a panóplia das emoções humanas. No decorrer da repetição anual da conquista, ao longo das danças e da recitação dos oráculos, a epopeia deveria ter sido representada. Mas, nessas reuniões anuais, os problemas do dia deveriam de estar tão presentes no espírito do povo como actualmente para nós. Em tais circunstâncias, um final triunfante daria ao povo a sensação de que poderiam comparar-se com os feitos heróicos dos seus ilustres antepassados e que a culpa de todas as dificuldades que viviam eram deles próprios. O texto final, o último oráculo, diz: "Não, as dificuldades e o caos fazem parte da vida como as vitórias e as conquistas." O que torna o I' Ching tão poderoso ainda hoje é o facto de reconhecer a natureza interna das mutações, da transformação e da luta. É por isso que, no fim da epopeia, a dúvida subsiste. É na solidão individual, na dissidência do poder politico e no reconhecimento das dificuldades da vida que culmina toda a história.
... O I' Ching tornou-se um notável texto espiritual porque se dirige à condição humana de todas as gerações. O facto de poder-se provar que está enraizado num determinado acontecimento histórico tem o mesmo significado que, por exemplo, o êxodo aos longo dos séculos. A epopeia do I 'Ching é a epopeia da natureza mutável da vida, os seus altos e baixos e dificuldades. O que é fascinante é a Voz ouvida, uma Voz que ecoa nas vidas de quem o consulta. É esta voz que transforma o texto de uma simples crónica em jornada espiritual.

crédito: Livro I Ching - O Livro das Mutações de Martin Palmer, Jay Ramsay, Zhao Xiaomin