Conheço barcos
que ficam no porto
com medo de que
as correntes os arrastem violentamente.
Conheço barcos
que enferrujam no porto
para não
arriscarem nunca uma vela ao largo.
Conheço barcos
que se esquecem de zarpar.
Têm medo do mar
por estarem a envelhecer;
E as vagas nunca
os separaram.
A sua viagem
terminou antes de começar.
Conheço barcos
tão amarrados
que desaprenderam
de se olhar.
Conheço barcos
que ficam a marulhar
para estarem
realmente seguros de jamais se deixar.
Conheço barcos
que vão, aos pares,
afrontar o
temporal quando o furacão está sobre eles.
Conheço barcos
que se arranham um pouco
nas rotas
oceânicas aonde os levam os seus manejos.
Conheço barcos
que regressam ao porto,
todos amassados,
mas mais dignos e mais fortes.
Conheço barcos
estranhamente iguais
quando
partilharam anos e anos de sol.
Conheço barcos
que transbordam de amor
quando navegaram
até ao seu último dia,
sem nunca
recolher suas asas de gigantes,
porque têm o
coração à medida do oceano.
Marie-Annick Rétif
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